Não caia no conto do vigário em 2019: desenvolvimento profissional exige tempo

Em minha jornada profissional, além de psicologia, fiz inúmeros cursos na área comportamental e, mesmo assim, sempre me questiono se estou sendo coerente no que falo, escrevo ou penso sobre o tema.

Formações rápidas, cursos prometendo milagres na transformação de vida e na carreira dos profissionais. Será que existem metodologias que consegue ser extremamente rápidas?

Em minha jornada profissional, além de psicologia, fiz inúmeros cursos na área comportamental e, mesmo assim, sempre me questiono se estou sendo coerente no que falo, escrevo ou penso sobre o tema.

Carreiras: venda somente o que você pode entregar

O que mais me espanta atualmente é como a psique humana tem sido tratada de forma tão simplista pelos profissionais “comportamentais” e “terapeutas” – frequentemente com uma formação duvidosa.

Tudo parece concentrar-se em uma redução à pura felicidade ou em uma oferta de sucesso via fórmulas prontas, com sete, oito ou vinte passos e seus gráficos, muitas vezes, sem qualquer base teórica e muito menos validação científica. Ou as empresas de recolocação profissional que solicitam altos investimentos e prometendo vagas com os salários mirabolantes.

Alguns teóricos do comportamento humano como Freud e Jung levaram anos para desenvolverem teorias buscando entender a complexidade da psique humana e os estudos de neurociências avançam a cada dia. No entanto, ainda não se sabe de muita coisa.

Algumas instituições oferecem cursos de poucas horas com técnicas de atendimento que garantem uma significativa mudança no outro. Será?

Como se fôssemos todos iguais, calculáveis e suscetíveis a fórmulas exatas e a métodos precisos. Criamos uma espécie de drive-thru de soluções para tudo. Com o imediatismo dessas novas gerações, as empresas, no anseio de gerar colaboradores mais produtivos e motivados, vão pelo mesmo viés. A área de recursos humanos descabela-se para atender as exigências de diretores, que acreditam na possibilidade de treinamentos muito breves geradores de um milagre organizacional.

Veja bem, não estou desconsiderando a qualidade de todas instituições, cursos e métodos oferecidos atualmente, apenas estou provocando uma reflexão sobre como podemos ter tantos terapeutas, coaches e profissionais do comportamento humano, formados tão rapidamente e com a promessa de organizar a vida ou a carreira de alguém.

Essa necessidade imediatista de que tudo pode ser transformado rapidamente e de modo certeiro, desconsiderando a subjetividade de cada um, beira a insanidade.

O ser humano é influenciado por traços genéticos, família, personalidade, comunidade, estímulos educacionais, entre tantos outros fatores, que uma fórmula de sete passos para mudar sua autoestima jamais teria vantagem sobre os diversos acontecimentos construídos em sua psique. O buraco é literalmente mais embaixo.

Certa vez, uma grande amiga contou-me que uma famosa palestrante sugeria que as pessoas vendessem o carro para participar de um caro workshop, ministrado por ela, curso que, com toda certeza, mudaria a vida das pessoas.

Essa proposta parece até uma promessa religiosa, não é mesmo? Quem mensura isso depois? Nem tudo vale a pena para ganhar dinheiro. Além disso, trocar seu carro por uma palestra já traz uma enorme mudança na vida, não?

Costumo dizer: “venda somente o que você pode entregar”.

Muitos “profissionais” vendem-se de forma marqueteira e prometem mudanças imensas e inovadoras. Cuidado! Simpatia, fluência na oralidade e persuasão não são sinônimos de resultados. Seja mais crítico! Se você precisa de ajuda, estude a técnica a ser adotada.

Se as soluções fossem tão fáceis, teríamos uma sociedade mais saudável e menos depressiva, com funcionários mais felizes e mais emocionalmente estáveis, mas não é o que apontam as pesquisas sobre o tema.

Nossa urgência de ter um direcionamento, realizar desejos e sonhos deve ser questionada e, sobretudo, desacelerada. Por isso, eu insisto naquela frase tão citada na área de RH: “mudança é um processo, não um evento” (Michael Fullan, 1991).

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